domingo, 8 de abril de 2012

doces...

castanhos ou verdes...
por vezes não sei.
mudam com a lua
num rodopio de cores.
gosto deles. são doces.
emanam uma ternura
que preenche cada poro,
cada partícula de ar à minha volta.

hoje e amanhã. sempre.
companheiro de viagem.
amante, amigo, companheiro...

hoje e amanhã. ontem também....

quinta-feira, 12 de maio de 2011

16:59...

sonhei ontem: um barco que me levava a
praias distantes banhadas pelo mesmo mar.

a costa de linhas suaves, salpicada de árvores,
pintada a ocre e verde.

sonhei ontem: éramos uns quantos marinheiros
num barco de madeira, gritávamos: liberdade!

a costa de linhas suaves, salpicada de árvores,
pintada a ocre e verde.

alguém acena da praia:
"bem vindos a casa."

domingo, 13 de fevereiro de 2011

eros...

simples beleza
tocada por um raio de sol preguiçoso.

pele nua pele tua
e é ternura que beijo no teu peito.

damos as mãos
como se o tempo estivesse suspenso.

hoje não há ninguém lá fora
apenas os pássaros cantam
e nós cantamos também.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

sem...

inconsciente
no subsolo da mente,
adormecido, silencioso, mas crente,
um sentimento quase demente.

lago, rio, mar,
cascata rouxinol no cantar,
essa força esquecida no caminhar
perdoa a tortura que é não te amar.

domingo, 24 de outubro de 2010

bouche...

carnuda, perspicaz, doce.
pele na pele da pele que é mais que pele.
é desejo, é querer, é sentir, é necessitar...

pele que é pele na pele,
desejo que é sentir o querer,
carnuda, sagaz, doce...

sentir o querer do desejo,
da pele na pele, que é mais que pele,
mais que carne, calor, sentir, ter...

o corpo, a pele, o desejo, a pele...

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

05:02...

ser ver querer viver
sonhar tocar cantar amar

cair apanhar rogar seguir
beber cantar tocar sentir

ter viver sonhar cantar
querer ver sentir amar...

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

cannelle...

mulher. pele bela lisa e terna. pele branca de uma areia fina. lábios clássicos, esculpidos, despidos...

mulher. aroma amante de um pôr do sol à beira-mar...

mulher. somente, mulher...

domingo, 5 de setembro de 2010

fleur d'oranger...

faz um pouco de frio agora. o sol vai caindo aos poucos e o céu tinge-se de tons de laranja.
pego no xaile feito de lã grossa e aconchego-o ao meu peito. faz um pouco de frio agora.
as crianças correm para o alpendre cansadas, rindo. sentiram o cheirinho do bolo acabado de fazer. pão-de-ló de laranja. num piscar de olhos, devoram tudo e retomam as brincadeiras. têm de aproveitar, o sol mostra-se somente por mais alguns instantes. vinda de leste, uma brisa suave brinca com os meus cabelos. esboço um sorriso.

as laranjeiras estão em flor...

terça-feira, 27 de abril de 2010

II - queda...




trespassado
peito meu
espada tua

seres das sombras
saboreando raios de sol
nas margens do antigo

morte aqui ao lado
vida do outro lado...

I - queda ...




longe perto longe
chegamos a isto
perto de mais
longe de mais
a morte...

quarta-feira, 21 de abril de 2010

post-it (papel amarelo)...

esqueceste-te das laranjas?

...

não! estão no frigorífico...

terça-feira, 20 de abril de 2010

poeira...

ao cair da noite sento-me no chão, procurando a última nesga de sol que resta.
ali mesmo, num desvio de olhar, estavas tu, altiva, séria, interrogativa.
a poeira acumulava-se ao teu-meu redor. os meus lábios secavam. tu humedecias.
a chuva teimava em não parar, tentando desesperadamente assentar a poeira, dar-me de beber.
teimosamente. a chuva não parava. a poeira não assentava. e os meus lábios não beijavam...

quinta-feira, 1 de abril de 2010

ficção...

há bem pouco tempo, não muito longe daqui, uma criança brincava.
esperamos sempre que se continue a história...
hoje vou deixar as linhas restantes em branco.
há bem pouco tempo, não muito longe daqui, uma mulher chorava.

terça-feira, 9 de março de 2010

estrada...

equilíbrio, ternura,
pele, cheiro.
desejo, candura,
abraço, cheiro.

ternura, desejo,
abraço, beijo.

quinta-feira, 4 de março de 2010

coisas desta terra...

serão as oliveiras? os mal-me-queres-bem-me-queres?
ou talvez as colinas verdes, os riachos, as ribeiras...
ou se calhar nada disto. serão os risos, os choros, o fim das tardes?
as manhãs de pão acabado de cozer com manteiga e a caneca de café?

talvez... talvez...
mas os malmequeres e as ribeiras, os riachos e as oliveiras,
esses estão sempre lá, nas manhãs de pão quente,
e nos fins de tarde de risos e choros, à sombra das oliveiras...

sábado, 27 de fevereiro de 2010

de cheirar, de trincar, de sentir...

primeiro os sons.
aprendi que os alimentos também têm som.
pega-se numa beringela, encosta-se ao ouvido e agita-se.
o que ouvem?
o sino da igreja bate as onze badaladas.
meio kilo de laranjas, duas romãs e um molho de coentros.
em seguida vêm os cheiros.
bem antes de entrar na padaria o aroma a pão acabado de cozer,
a lenha, a doces, faz cocegas no meu nariz.
no saco, os coentros gritam os seus pedidos: quatro carcaças bem cozidas, e uma bola de berlim.
sento-me por instantes no banquinho da praceta,
o sol beijando-me o rosto, diz que são horas de começar.
na cozinha, faço dançar ervas e especiarias, rodopiam e rodopiam na panela.
é tempo. ele toca à campainha.
recebo-o com um beijo, ele faz aquele sorriso matreiro e pergunta:
que andaste tu a cozinhar hoje?
mistério! vendo-lhe os olhos e sento-o à mesa.
na primeira garfada uma explosão de texturas, odores, cores...
tiro-lhe a venda.
o som dos talheres no prato, dos copos a poisarem, criam uma pequena banda sonora.
agora a sobremesa! laranjas doces e sumarentas, romãs bem vermelhas, temperadas com a melhor das especiarias.
o meu segredo.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

nessa noite...

se houvesse alguém que me guie
nessa noite de luar
a lua não soava tão distante
nesse mar...

a vida pede um segredo de marfim
enquanto eu peço um beijo sem fim...

te quero nessa noite
nessa vida não há outra...
na outra quem me segue
será uma outra qualquer...

se hoje na noite
um passarinho verde
me conte, nessa noite
as historias dessa morte...

um beijo sem sorte
uma estrela sem norte...

sei que me queres
mas a vida não quer...
que me beijes nessa noite
ao luar de quem me quer...

se um dia a noite
te diz quem te quer...

espero que nessa noite
me beijes sem querer...

espero que nessa noite
me beijes sem me esquecer...

domingo, 14 de fevereiro de 2010

03:52...

caprichosa máscara de carne
pintada a preto e vermelho.
a pele queimada por um sol,
enrugada por um vento.
incertezas e dor
castigo e amor...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

naquelas noites de chuva...

na magia daquelas noites de chuva
poesia que escrevemos nas pedrinhas da calçada
os beijos que demos naquelas noites de chuva...

o copo de vinho meio bebido
entornado no chão do quarto
tuas roupas espalhadas, teu corpo querido...

no calor daquelas noites de chuva
teus beijos queimando minha alma
teus abraços fazendo-me ignorar a chuva...



"Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera cega em face da injustiça e do mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de sua inútil poesia e sua força inútil."


Vinicius de Morares, O Haver
.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

entre a chama e o mar...

sento-me,
sento-me nas rochas.
a espuma espalha-se à minha frente
e aninha-se no nicho de bivalves à minha frente.

deito-me,
deito-me nas rochas.
olho para o lado e a espuma...
e a espuma
espalha-se à minha volta.

sou uma ilha agora.

acende-se em mim um braseiro.
crepito,
crepito e aqueço...

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

batuque...

la no fundo da rua
o rei do pião
joga seu jogo
girando a vida na mão

à volta dele mulheres
batucando no peito
de mãos abertas
gingando com deleito

saindo da roda
a índia de cabelos negros
rodopia com o rei
cantando seus segredos...

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

ofélia...

cai do alto
e rebola no chão
a bola que apanhas
com os dentes,
com a mão...

pata de gata
assim é
prendes a bola
que rebola e
largas no meu pé.

arisca esquiva
brincas com o meu nariz
e no meu peito
adormeces enroscada
sem me dizeres mais nada...

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

doni...

na alvorada deste dia, queima-se incenso, acendem-se tochas, bebe-se à tua saúde. ou será à tua saudade? não sei bem. escorrem néctares divinos dos tonéis, um braseiro ainda arde sem saber muito bem o porquê. o sol aparece no horizonte, anel de fogo que nos aquece. está frio, mas dançamos descalços, pés nus na terra. cantamos a ti minha mãe-terra, para que nos recordemos que ainda vives, que nos suportas, sustentas, alimentas. o fogo que nos queima na alma aquece-nos também. o pai sol eleva-se mais um pouco. um corvo dá sinal. crianças despertam do seu sono e juntam-se a nós, já exaustos. a festa tem de continuar. no meu peito ecoa a tua melodia primordial. o batuque vai avançando com o dia. cheiros de comidas começam a chegar aos nossos narizes famintos. o grito das aves marinhas acompanha o som das guitarras. um corvo dá o sinal. a festa continua. vinho, pão, doces e peixe são servidos em malgas toscas de madeira. o povo pequenino aparece. a festa continua. damos graças. à vida, a nossa, à tua vida minha mãe. à liberdade de estarmos aqui. por que o escolhemos. por que o quisemos. estar nesta tua casa, de pés nus na terra, cantando e dançando. porque a vida o merece, por que vale a pena estarmos vivos.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

carta a antero...

Meu querido Antero, escrevo-te aqui de Lisboa, nesta fria noite de Janeiro, apenas para te recordar. Partiste. Já há muito que partiste. Mas ainda há quem te relembre, te leia, te queira bem. Não me conheces, é facto. Talvez o nosso espírito se tenho cruzado numa qualquer outra existência. Creio que seja essa a razão que me faz sentar aos pés da velha poltrona e, de olhos fechados, te imagine numa conversa prosaica, poética, intimista, cantando a bondade, a ternura, a candura. Hoje li-te. Hoje quis-te. Amanhã também. Quantos mais Anteros serão precisos? Apenas um, creio. Apenas um Antero. O bom Antero. O santo Antero.


...

"Tu que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno.

Acorda! É tempo! O sol, já alto e pleno
Afugentou as larvas tumulares...
Para surgir do seio desses mares
Um mundo novo espera só um aceno...

Escuta! É a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! São canções...
Mas de guerra... e são vozes de rebate!

Ergue-te, pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate!" A. de Q.


a Antero de Quental...

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

de granito...

áspera, irregular, sólida.
assim é a tua pele.
quando me tocas, com os teus dedos frios e húmidos,
sinto conforto.
quando te peço um carinho, subitamente aqueces com a
luz do sol.
deitada no teu regaço, contas-me histórias fascinantes,
de homens, barcos e mar.
minha mãe, minha amante, minha terra, assim és tu,
deitada ao luar...

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

laranja, mel e canela...

à primeira dentada sinto os cabelos a arrepiarem-se com a tua acidez. espera. afinal és doce! da tua carne, ferida pela minha boca, sangra uma seiva aromática, refrescante, que escorre pela minha garganta.

faço cair sobre ti um pequeno riacho cor de oiro, translucido, sinuoso, brincalhão. cobre-te de pequenas caricias, enrosca-se, como um amante ansioso pelos beijos ternos da sua amada.

em jeito de dança, salpico-te com esta coisa meio estranha, que se cola aos meus dedos. agora sim. estás pronta.





laranja, mel e canela. haverá coisa mais simples, mais doce, mais quente?

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

pisa-papéis...

alguém abriu a minha janela
o vento frio despenteia-me o cabelo
...
tanta confusão!
alguém apanha esses papéis?

...
olhei para o lado
e ali estavas
pesado
mudo
surdo

peguei em ti
e fiz o que tinha de fazer.

domingo, 20 de dezembro de 2009

pionés...

uma tua outra minha
presas a um pedaço de cortiça velha
...
junto um postal agora:
ainda cheira a canela!

sábado, 19 de dezembro de 2009

post-it...

dois gomos de laranja
trincados até meio
...
dois meios-gomos de laranja:
estão no congelador!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

04:21...

contaram-me que vens de longe.
não acredito. estás mesmo aqui.
posso tocar-te, cheirar-te, saborear-te.
vens dali mesmo do quintal.
vi-te crescer. verde. vivaz.
agora, doirado na minha taça,
liquido meloso, aqueces-me...

domingo, 6 de dezembro de 2009

07:11...

o dia começa a clarear.
prega-me uma partida como se eu ainda tivesse cinco anos, e deita-me a língua de fora desde a janela. malandreco!
tenho a voz rouca e dói-me os pés. mas ainda assim apetece-me.
ligo o gira-discos. fecho os olhos. atiro os chinelos para o lado e...


segunda-feira, 30 de novembro de 2009

traineira...


feita de negra madeira, pintada a punho firme, toda ela ondula no cais. sacode os cabelos, arqueia as costas, fita o horizonte e sorri confiante. hoje vai passear. apesar da chuva miudinha que lhe humedece a pele, não se importa. hoje vai passear. mãos ternas de um belo moço cingirão a sua delgada cintura, levando-a rio acima. o sol já diz adeus, pede desculpa mas combinou um chá com a vizinha. ela não se importa. hoje vai voltar a sair do cais, sentir a chuva no rosto, brincar com as algas que se prendem nos seus dedos, beijar o vento...

terça-feira, 27 de outubro de 2009

em que esquina...

em que esquina te escondes
que ruas, que pedras pisas...
em que café te encontras
mergulhado no jornal de ontem...

em que palavras te prendes
que imagens, que paisagens...
em que ruela te abrigas
dos monstros, das criaturas...

em que segredos te detens
que canção, que sensação...
em que janela espreitas
as pessoas, as ruas...

em que beijos...

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

01:11...

quando é que sabemos que voltamos a casa?
não o apartamento ou vivenda ou outro imóvel onde vivemos... a casa... a nossa casa...
quando é que sabemos que estamos em casa?
o cheiro, o som, o calor, a ternura...
vagamos por aí, esquinas, ruas, cafés... vagamos por aí sem nos darmos conta...
quando é que sabemos que temos uma casa?
saímos à rua, de chapéu de chuva no braço, olhamos o céu ainda escuro, prometendo chuva,
entramos no café do costume, pedimos o mesmo de sempre...
ficamos à espera do autocarro, numa paragem apinhada de gente. começou a chover...
ainda fumamos um cigarro, o sino da igreja bate as oito horas da manhã...

respiro fundo. fecho os olhos...

hoje cheguei finalmente à minha casa...

(lisboa...)

sábado, 12 de setembro de 2009

sem alces nem trolls...

peço desculpa a quem prometi um post com fotos da família do homem da minha vida, mas a verdade é que eles são muito tímidos e não se deixaram fotografar...
ainda assim, após já uma semana do meu regresso, parece que ainda estou lá. é verdade que está um calor insuportável, e o São Pedro até teve pena de mim e teve uma conversinha com Zeus a fim de me darem uma trovoadazinha... aos dois o meu muito obrigado. sim por que lá para o Monte Olimpo já devem ter disto das internetes, tiveram de se actualizar né?!

aqui em Lisboa parece-me tudo igual... mas no entanto em quinze dias muita coisa mudou... abriu um novo troço da linha vermelha (urraiiiiihhhh), existe mais um autocarro em Benfica (ainda vou investigar a sua futura utilidade para mim) e a minha prima Mara casou-se!!! vim mesmo a tempo de assistir à cerimónia. bonita, simples, e com surpresas... surpreendentemente, algo nesse dia tocou-me. vê-la ali de vestido branco, véu, linda e com um sorriso vibrante, a realizar um dos seu sonhos, um sonho aliás que desde novas partilhava-mos: como seria o nosso vestido, a cor do baton, a música que íamos dançar, a data... sim por que queríamos casar as duas no mesmo dia! tal não aconteceu, até por que para ela esse sonho continuou, e em mim morreu... acho irrelevante o casamento. ou pelo menos achava... se antes era tão rígida no meu pensamento de nunca me casar, hoje acho que sou mais flexível... pois bem, quem não muda estagna, e eu não quero ser um lago de águas paradas. quero ser um rio, que nasce numa montanha verde, corre por entre os vales e planícies, e que desagua num mar qualquer...

leve como a bruma
que se acumula
nos teus cabelos
ágil como a pantera
que espera
no fim da noite
solitária como a lua
cheia sozinha
no céu negro...

domingo, 30 de agosto de 2009

nas lides da cozinha...


um verdadeiro jantar ibérico... tortilha e vegetais salteados...

telhados...

quando tirei esta foto lembrei-me da história do zé do telhado...

bergen...


a típica foto de bryggen... parte antiga de bergen...

neste stasjon: bergen...

saindo de oslo pela manhã, esperavam-me quase sete horas de viagem... pela janela do comboio admirei verdadeiros quadros vivos, de uma beleza que as palavras não conseguem alcançar. a meu lado encontrava-se um belo rapaz de tez morena, tão admirado quanto eu. chama-se marc e é de barcelona. é engraçado isto dos encontros inesperados... acabaríamos a viagem juntos, passeando pela cidade e pelas montanhas... "a vida é arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida..." (v. de m.). se me pedirem para descrever a viagem diria somente isto: água, água por todo o lado... neve... rios... lagos... fjords... chuva... água, água por todo o lado... e verde, muito verde... e mais água... a cidade? tem um aroma próprio, a mar, a terra molhada, a chuva, muita chuva... comi o melhor salmão da minha vida!!! a textura, sabor, aroma, e apresentação estavam perfeitos!!! tenho de agradecer ao kristian que tão gentilmente me acolheu no seu "sofá" (isto do couchsurfing é das melhores invenções das "internetes")... e pronto resumindo um pouco: em 4 dias vivi mais que em tantos meses aí em lisboa. em 4 dias apenas não consigo arranjar gavetas para meter tanta recordação... sinto-me nova... e com tanta coisa ainda para ver, para cheirar e para saborear... quero mais... muito mais...

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

neste stasjon: nationaltheatret...

chegada a oslo, fui até nationaltheatret esperar o meu futuro "guia"...
à noite fomos passear pelos arredores da casa onde fiquei com o senhor meu "guia"em gråkamveien, e como eu tenho um sentido de orientação fantástico, foi preciso uma explicação extensiva e complexa por parte do meu "guia"...
e no dia seguinte encontrei o homem da minha vida... o meu "guia" achou lindo e romântico e tirou uma foto... num lago algures no meio da floresta, o meu "guia", após meditação profunda, teve uma epifania...
...e eu desenvolvi uma obsessão por cogumelos...
após um passeio de barco, descobri o local de reunião de uma sociedade secreta... estavam com toda a certeza a conspirar contra nós!...
passear é muito fixe e tal, mas as dores nos pés começam a assaltar-me de forma avassaladora!!! (estou tão velha e caquéctica e senil e jarreta)... mais uma vez, ana a snob, aparece... olá! estás aí??? não te tinha visto...o meu "guia" está a ser muito bem tratado e alimentado... não quero que desfaleça... assim não teria ninguém para impedir que eu tropece em tudo o que vejo...


olha ali um alce!

sábado, 15 de agosto de 2009

vou fazer uma viagem...

vou fazer uma viagem.
tenho tudo o que preciso:
mala, roupas dobradas cuidadosamente,
uma bolsinha para a escova de dentes.
tenho tudo o que preciso:
um guia do país, maquina fotográfica,
e o meu caderninho preto.
tenho tudo o que preciso.

vou fazer uma viagem.
vou meter-me no avião,
aterrar num país diferente.

vou fazer uma viagem.
apanho um comboio para
outra cidade ainda.

vou fazer uma viagem.
tenho tudo o que preciso:
as minhas pernas, os meus braços,
a minha cabeça, os meus pulmões,
o meu... onde está?
perdi!
perdi o meu...
ficou no cais?
ficou no cais o meu...

terça-feira, 4 de agosto de 2009

fotografia...

"queres subir?"
eu disse que sim.
pousei a minha mala no chão do teu quarto
sentei-me na tua cama e tu perguntaste:
"vamos para a sala?"
eu fui.
sentei-me no sofá, agarrei no copo que me estendias.
ligaste a televisão. nada interessante.
olhaste para mim. interrogaste-me.
eu olhei para ti e respondi.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

quadro...

hoje não vou pintar um quadro bonito.
vou pegar na tela de algodão branco
e espalhar nela toda a tinta vermelha que tenho.
não a tinta do meu sangue mas a tinta dos meus lábios.

hoje pintei os lábios de vermelho
na tentativa de dizer doces palavras,
mas apenas deles saíram rajadas
de palavras não doces, amargas.

hoje pintei um quadro a vermelho.
a tela escorria tinta cor de fogo,
desse mesmo fogo que nos aqueceu
e nos confortou e nos queimou.

amanha pinto um quadro para ti.
um quadro azul escuro, daquele azul da noite.
nele vou pôr estrelas, melodias e sonhos.
os teus sonhos...

quinta-feira, 16 de julho de 2009

reflexo de ti...

"There was nothing in the world
That I ever wanted more
Than to feel you deep in my heart
There was nothing in the world
That I ever wanted more
Than to never feel the breaking apart
All my pictures of you"

The Cure, Pictures of You


imagem reflexo espelho...


quarta-feira, 17 de junho de 2009

dupla identidade...

vergo-me à sombra do sobreiro
enquanto de me ergo nos meus pensamentos
vive-se a paz do cheiro a feno cortado
e do som da brisa de fim de tarde nos ramos

tenho duas mãos entrelaçadas noutras duas

já não sei a quem pertence a minha coxa
sei apenas que somente a mim e talvez a outro
pertence aquele meu eu imenso e confuso

não sei se me perdi já apesar de caminhar em linha recta até ao por do sol

não sei se me perdi já apesar de seguir o rumo traçado pela linha do horizonte
não sei não sei apenas noto a ausência de mim no meu peito
um aperto confuso que magoa e sangra por vezes
sei somente que onde eu estiver procurarei por ti
procurarei por mim...

sábado, 6 de junho de 2009

carícia...

...
E de te amar assim, muito e amiúde

É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Vinicius de Moraes

sempre a cada dia que passa
a miragem em que te revejo
subindo a calçada da Graça
o teu olhar de um incontornável desejo

cingindo-me a cintura num eterno beijo...

quarta-feira, 3 de junho de 2009

na hora do lobo...

na hora em que as sombras tomam conta do que te rodeia,
as pálpebras começam a pesar nos teus olhos e
o corpo quer ceder à inercia da cama,
nessa hora estou desperta.
os meus sentidos estão mais claros,
o meu corpo clama pela vida lá fora no abismo da noite.
na hora em que a lua reflecte a sua luz no tejo,
eu saio à rua dançando com os vultos,
cantando com o vento, bebendo a maresia com todo o meu ser...

sábado, 16 de maio de 2009

"A Ilha das Trevas" - o rescaldo

são 8 horas e 32 minutos do dia 16 de maio do ano de 2009.

o texto que escrevo hoje não pode ser belo.
terminei de ler um livro. um livro que a partida seria "inofensivo"... um relato jornalístico, factual, sobre os acontecimentos da história de Timor.
engano.
recordei as vigílias em frente à embaixada dos Estados Unidos, o cordão humano em Lisboa, a união de um país inteiro por Timor.
é algo que me choca. a forma fria como estas questões de guerra são tratadas. "invade-se... não se invade...." e a população que se lixe... por que é e sempre será assim.
não me esqueço. e o pior é a ficção cruzar-se tanto com a realidade. não me esqueço do "testemunho final" de Paulino... não irei nunca apagar a agonia e a sensação fria e amarga na boca após ter repetido em voz alta as palavras que acabara de ler. o nojo que senti ao saber que apesar do nome "Paulino" ser mero adorno, a situação por que passou é facto! (e continua a sê-lo, que esta palhaçada toda de Iraques e companhias "ilimitadas" não é pêra doce não!)
estou cansada. farta. indignada a um ponto extremo. irritada é verdade. extremamente.
claro que ninguém a não ser eu e mais dois ou três caramelos estão a perceber esta torrente de palavras.... claro que já ninguém percebe a indignação de outra pessoa com este tipo de assuntos... claro...
tornou-se...
banal.
sim.
banal um pai ver-se obrigado a matar a própria filha para evitar que esta seja violada por não sei quantos tipos de farda (sim, filho a farda fica-te muito bem, vê lá se te portas bem lá prás guerras... e leva protector solar que lá faz muito sol!) ...
comum... nada estranho...
banal...
naquela altura fomos tão grandes na nossa pequenez... a nossa pequena voz de país à beira-mar plantado foi suficiente para mover países com o quadruplo do nosso tamanho, por uma causa justa. bastou apenas uma pequenina voz...
mandam-me calar? não..... sou pequena, posso ser minúscula até. mas só me calo com sete palmos de terra em cima!!!
mania de mandar calar as pessoas pah!
"não me obriguem a vir para a rua gritar..."
e agora dizem "lá vem o saudosismo... típico do português... a lembrar de quando era grande e tal e coiso..." não é?
claro que é. a preguiça de mexer o rabo do sofá é grande não é? abrir a boca agora é fácil, com o comando da tv na mão... "isto, o país está em crise... o mundo está em crise... o canário está em crise... o cão da vizinha muita boa do 2º direito está em crise..." e continua no sofá a ver a grande crise que o país está...
estou irritada.
extremamente irritada.
apetece-me... não sei... ir ao café do tio joaquim mamar umas belas mines e comer uns tremoços enquanto dá o meu Benfica! é isso... e no intervelo assisto a mais um pouco de crise, e guerras e fome, muita fome que já não há pasteis de bacalhau, agora só rissóis de camarão...

não me parece...

p.s. não vou pedir desculpa por este texto. se não é do "estilo" do blogue... que se dane!!! também não era para ser bonito ou muito profundo. o ser humano tem destas coisas e a mim apeteceu-me escrever após esta minha noite branca, e públicar este rol de palavras aparentemente sem sentido para alguns, mas que a mim me dá alguma paz de espírito. não muita. que é preciso sair à rua e fazer alguma coisa!!!!!
quem vem comigo?

sexta-feira, 1 de maio de 2009

caminho descendente...

meu amor, saí à rua para comprar cigarros.
não sei se reparaste, levei o blusão preto.
desci aquela rua, paralela à tua, cheia de carros.

meu amor, saí à rua para comprar cigarros.
não sei se reparaste, levei as velhas calças desbotadas.
desci a outra rua, aquela onde fumavas charros.

meu amor, saí à rua para comprar cigarros.
não sei se reparaste, mas não levei as chaves.
desci todas as ruas, e não subi nenhuma.

meu amor, saí à rua para comprar cigarros.
não sei se reparaste, mas ainda não voltei.
se desceres todas as ruas, talvez eu suba uma...

sexta-feira, 10 de abril de 2009

01:16...

tenho os meus pés descalços
nus no asfalto
o sol aquece a gravilha
sinto-a nos meus dedos
queima-me mas não me importo...

continuo a andar
uma pedrinha teima
colou-se ao meu calcanhar
ignoro-a e continuo a andar...

la em cima
sento-me e olho a volta...
dois pardais bebem água
um homem apara um roseiral
caem pequenas gotas de chuva...

agarro nos meus sapatos
e começo a limpar os pés...
agarro na pedrinha e olho melhor
é esverdeada...
lembra-me os olhos de alguém...

guardo a pedra no bolso e volto para casa...

terça-feira, 17 de março de 2009

solta-se no peito...

no teu seio revolucionário
abrigaste todas as minhas esperanças
nos teus braços embalaste-me...
rosa e cravo...
rosa que é cravo
e cravo que beijou a rosa...
solta-se no peito
salta da minha garganta...
seremos livres... seremos filhos da madrugada...

quarta-feira, 11 de março de 2009

apenas...

eleita sempre na vaga ondulação do mar
mergulhando nos meus braços adormeces...

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

céu, alfazema e... lisboa...




no recanto do teu canto
escondida na calçada
dona lagartixa ao sol deitada...

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

canção da despedida incompleta...

olho-te e não te quero ver
vejo-te mas não quero olhar

os teus olhos ariscos e felinos
não se fixam em nenhum ponto

não te quero olhar mas vejo-te
encostas-te na poltrona e sorris

as tuas mãos oscilam
o teu olhar não se fixa

perdeste o foco
e eu perdi o chão

olho-te agora
mas não te quero ver

imóvel sustendo a respiração
seguro no peito apenas esta canção

segue o som
perde o freio
oscila no vento
canta o tormento
corre depressa
já ninguém te espera
sobe as escadas
e sai pela janela
mergulha de cabeça
ninguém te espera
desce o rio
mergulha no mar
parte para longe
onde te possam esperar

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

longe, longínquo...

lua meia cheia
brilha na ilha
cai no ar do mar
do sentimento

meia lua cheia
serpenteia no alto
salto da mulher-candeia

cheia lua meia inteira
presenteia a aranha
na sua teia...

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

cumplicidade...

num cruzar de olhos adivinhou-se...
um enlaço de pernas, um abraço terno.
numa melodia vibrante criou-se...
um troar de pés, um pulsar sereno.

jasmin e chocolate, paixão e saudade...
suster a respiração e continuar.
cantar o corpo a dançar...

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

felina imagem... arisca mensagem...

felino esquivo dono de mim
notas de malícia nos teus lábios
cantam uma canção sem fim...

surges na noite fria
e brincando com os meus sentidos
esperas que eu sorria...

depois foges novamente
refugias-te em sons desentendidos
palavras criadas deliberadamente...

felino arisco dono de ti...

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

fio de rio...

equilibro-me nas pontas dos pés, olho para baixo. um fio de rio corre vagarosamente. fecho os olhos. tenho dois minutos. dois minutos apenas.
que fazer? abandono o meu corpo ao peso do meu curto viver. beijos, caricias, palavras ternas do meu último amante ecoam no meu peito. o sino velho de uma capela mais antiga que o tempo recorda desperta-me.
olho para baixo. um fio de rio corre calmamente, imperturbável. sinto um arrepio na nuca. alguém sopra palavras doces, confortantes.
abandono-me ao peso do meu corpo e caio no vazio.
a fria água embala o meu corpo ainda morno.
olho para baixo. um fio de rio corre de mansinho. duas rosas vermelhas na margem. alguém me chama...
mãe? és tu?


(sinto a tua falta)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

pedras e chuva...

inquietante é a vida à nossa frente. o que passou está lá, aconteceu, não se muda.
o caminho ainda por percorrer, sem sabermos que rios iremos atravessar, que florestas densas, que escaldantes desertos, esse sim é sublime.
a magia de existirmos reside no desconhecimento total do nosso futuro.
somos mortais e cada segundo é precioso.
num lapso de tempo, num ínfimo de espaço, em beijos roubados, em olhares trocados...
a minha pele, a tua pele, a nossa pele...
o nosso mundo criado e sempre, sempre reinventado...
nas sombras, nos vultos, numa nota grave ecoando no meu, no teu, no nosso fado...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

paris quatre...




é dura a despedida...
ficam as memórias dos cheiros, das cores, dos sabores...
uma ultima imagem de uma paris despertando para uma nova vida.
aos tropeções no metro, com uma mala cheia de lembranças,
despeço-me da cidade cor-de-rosa...

não sabendo, ele sabe
que aquilo que sei
nos nossos beijos lembrei...

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

paris trois...

seguro na mão um caderno em branco. folhas limpas, imensas linhas direitas, tortuosas...
sento-me num banco de jardim e as palavras que me estalam no peito, 
como as castanhas a meu lado, começam a fluir... 
como a brisa, que me traz o aroma doce dos crepes...
como o rio, que corre la em baixo.
apenas aqui os tons do anoitecer são rosados...
je vois la vie en rose... canta alguem junto ao carrocel.
o frio congela-me a carne, mas desperta algo...
um imenso sentir, um imenso desejo, um imenso sorriso.
faço um esgar... experimento a sensação... e sorrio.
sorrio por puro prazer. por que as imagens,
pequenos quadros vivos, são belas...
é tempo de beber mais uma taça de vinho.
escureceu já. pequenas gotas de chuva, timidas,
aconchegam-se umas às outras no meu casaco. 
não me importo. afinal, apenas querem um pouco de ternura...
parto agora. fica a memória das castanhas e o desejo de voltar...
amanha, a esta hora.

 

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

paris deux..

entre céus nebulados, pequenas gotas de chuva no rosto e uma taça de vinho,
nas pontes do sena encontrei-me e perdi-me em pensamentos inquietantes...
entre quartier latin e montmartre, elevei-me em atmosferas rosas, notas doces
de um acordeão, confortantes, quentes...
entre os risos nocturnos e as luzes brilhantes, aqui em paris, o tempo corre suavemente...
nestas esquinas ainda desconhecidas, a vontade de ficar é estranha...
entranha-se no meu corpo, enrosca-se na minha nuca, respira na minha boca...
o alimento que procurava, encontrei-o aqui. 
o rio é outro, mas acaba por se misturar com o tejo no mesmo oceano de emoções...
o tempo é curto... mas a vontade é enorme...
paris de amores que não tive, paris de sonhos e mistérios, paris dos olhos doces
na boca de um duende, bailando ao vento...
 

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

paris un...

segundos de silêncio no ar
durante vinte e poucos minutos de sentir e amar...
lisboa ficou para trás... o tejo ao longe disse-me adeus...
uma terra ainda conhecida à minha frente, outra por descobrir mais além...
um croissant e um café s'il vous plaît...
música e fonemas maiores nesta viagem.
canções menores blues e fado, recordo nesta mensagem... 

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

sonho de outono...

na estação de comboios sentia-se o aroma a castanhas e despedidas,
suores fingidos e olhares perdidos...
na bagagem levei apenas um retrato.
o teu...
parti na hora certa do ocaso, mergulhada em leituras e chá de limão.
olhando pela janela, a paisagem avançava sem pedir licença...
ao meu lado uma mulher ressonava de mansinho, assobiando
num tom suave, uma qualquer canção...
fecho os olhos, já não sei em qual linha ia.
flutuo entre o cheiro a maresia e as memórias que levo
naquela simples mala preta. apenas um retrato.
o teu lisboa.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

porque sim...

pés juntos, braços caídos ao longo do corpo... agora mexe-te... ouve a musica!!! estás sozinho na sala... liberta as pernas... deixa-te ir... isso... olha os pés!!! mexe os pés também!!!

respira... respira... RESPIRA...

sente a musica, não pares!!! o teu corpo todo estremece... isso... rodopia!!! RODOPIA!!!

vá, não pares... não pares agora...

DANÇA!!!

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

segunda vontade...

tenho duas taças de vinho encostadas ao meu peito. duas partes de ti. dois tus. duas chamas que me queimam na noite amena desta tarde serena... dois seres oblíquos que se interceptam nas esquinas de lisboa... nas manhãs de brigantia, subimos as ruas e descemos as avenidas... acabamo-nos nas vielas e bebemos café... seguramos o texto junto ao nosso ventre, desfalecemos e erguemo-nos num beijo arisco... sem tempo... sem espaço... apenas o infinito, o inconstante, o sublime à nossa frente... apenas o desejo de estar não estando... apenas a vida em ebulição, apenas um vulcão em erupção... viver respirando cada segundo em que acontecemos... resgatando as memórias de quando fomos aquilo que não podemos dizer... apenas adivinhando nos silencios o que partilhamos nestas encruzilhadas... o barco já saiu do cais... chegará à outra margem? não sei... mas o tejo é sempre o mesmo...

sede...

se em cada silencio teu
eu me adivinhar nas tuas palavras...
se em cada sussurro das tuas exaltações
eu me cativar nas tuas motivações...
se o verbo se encaixar no meu sujeito...
se a febre se acabar nas minhas emoções...
se a vida morrer nestes lençóis
e acordar nos teus anzóis...
resgatar-me-ias destas ilusões....

noites brancas...

na noite em que te escrevo
a escuridão envolve o meu peito
sonho com as coisas que não te disse
com tudo o que ficou esquecido no nosso leito...
creio no nosso fogo... aquela loucura que nos aquece...
nada serve o lamento deste corpo se apenas no teu ele estremece...
vem... vem... vem.... o tempo passa... vem... vem... vem... e me abraça...

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

sussurro...

sinto-te nas coisas em que toco,
sinto-te nas ruas macilentas
cheias de gentes baças.

quero-te no copo de vinho que bebo,
quero-te agora que respiro
neste sofá onde me acabo.

pele, a minha pele, a tua pele,
a nossa pele... o nosso calor...
o nosso desejo...

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

03:47...

chovia de mansinho naquela manhã, umas pingas desajeitadas acariciavam o meu cabelo.
descias a rua, com passadas minúsculas e apressadas, interrogando com o olhar o chão molhado...
"esta chuva não te cheira a pão acabado de cozer e a café com leite???"
sorri.
"cheira a chá e a bolinhos quentes!!!"
paraste, fizeste aquele teu ar de estranheza... depois soltou-se uma gargalhada franca da tua garganta...
sorri. e ri contigo...

aquela chuva cheirava à cidade... às nossas memórias de dias de chuva branda... a um gole de ternura com o tejo a nossa frente...

subimos juntos a rua... e quando parámos, o sol sorriu para nós.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

03:18...

a minha lua não se esconde, mesmo quando não se mostra...
é como o meu mar, que me beija quando se enrosca,
e me arrepia, salpicando as minhas costas...

ela brilha na noite escura, e continua na minha memória...
e nesta noite clara, nem o sol me distrai contando outra história...

sábado, 20 de setembro de 2008

porque foi lua cheia...

Pele

Quem foi que à tua pele conferiu esse papel
de mais que tua pele ser pele da minha pele

David Mourão-Ferreira

(uma excepção, um mestre, um suspiro...)

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

...

todo o teu corpo é um poema
uma sinfonia uma melodia
teus olhos verdes de maresia...

todo o fulgor de seres tu
amante da terra servo da lua
meu sonho é meu fado: ser tua...

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

sábado, 2 de agosto de 2008

lua nova...

o lobo não uiva agora...

sexta-feira, 11 de julho de 2008

suor e fantasia...

"dança comigo a primeira valsa da primavera..."

lua que cresce, lua que mingua...
do cimo da montanha espias os amantes...

há restos de suor e ternura no meio dos lençóis
onde esta noite se acabou, em beijos suplicantes...

de quê?
de nada... e de tudo...

segunda-feira, 16 de junho de 2008

"que o sertão vire mar e o mar vire sertão..."

Depois de Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964, um filme de Glauber Rocha, musica de Villa Lobos)


nem manuel, nem beato, nem corisco... apenas os homens desta terra...
nem deus nem o diabo, apenas o céu e a terra... e o mar...
ao longe... depois da montanha... sempre o mar... e a ilha também...
existe sempre uma ilha... aquela ilha, a tal ilha...

cego júlio descendo o sertão com a sua viola as costas...
"morreu maria bonita"...


sábado, 7 de junho de 2008

sangue...




já que as palavras me soaram sempre demasiado vazias perante aquilo que me fazes sentir...

graça sempre foste o meu canto... é nas tuas ruas que me encontro e me volto a perder...
sentada neste teu muro, espreitando o tejo, cresci e aprendi...


é pena uma fotografia não gravar o som dos pássaros nem o cheiro a maresia...

terça-feira, 6 de maio de 2008

pedaços de papel...

pedaços de papel...
onde uma ideia toma forma
e a palavra se reveste de significado.
metáforas, que deixam de o ser...
um pedaço de papel
com um mundo inteiro cativo
onde um sonho se torna realidade
e a metáfora ganha outro sentido...

sexta-feira, 25 de abril de 2008

acordai!


após 34 anos, feitos de mudanças, alienações, deturpações à ideia de "libertação" que motivou o M.F.A. a fazer a revolução de 25 de abril de 1974... sinto que valeu a pena...
valeu a pena aquele dia, valeu a pena a valentia de grandes capitães (recordo sempre Salgueiro Maia), para que hoje, mesmo com crise económica, mesmo com o mau-humor de toda a gente, poder sentar-me num café, com um grupo de amigos, falar de politica, criticar, elogiar, sem ter o medo de ser presa e torturada.
bem ou mal, ainda somos nós que escolhemos os nossos dirigentes... a responsabilidade é de todos!!!
fazer um país não é estar inertes perante a crise... é ir batalhar todos os dias, não é criticar quem se elegeu sempre com a mesma expressão "fomos enganados"... eduquem-se, informem-se, trabalhem, para que não se deixem enganar com promessas vãs... olhem bem para aquilo que realmente é Portugal... este país de fado e saudade...
fazer um país requer um esforço de memória... recordar sempre as palavras fraternidade, amor, solidariedade, liberdade...
para que "ninguém feche as portas que abril abriu"...

segunda-feira, 21 de abril de 2008

chá de menta - parte 2


a alma...



são rostos, são corpos, são movimentos... ponto de ebulição de toda a imaginação, ferver aquilo que somos e juntar mais sabor... adoçar a nossa vida a gosto...

chá de menta - parte 1


a matéria



num velho fogão a lenha, uma chaleira enferrujada de histórias começa a assobiar... um liquido doirado borbulha no seu interior, libertando ondas e aromas doces e verdes, que chegam em mensagens subtis e convidativas à porta da loja de tapetes.
cinco folhas de hortelã, uma colher de açúcar e aquele tapete azul se faz favor...

sábado, 12 de abril de 2008

hominis...

Nil sapientae odiosius nimio
Séneca

(depois de The Purloined Letter, Edgar Allan Poe)


Um copo de vidro deixado em cima da mesa.
Vazio...
Quem bebeu a minha água?
Ninguém...

quinta-feira, 10 de abril de 2008

primeiro rito...



as primeiras linhas são

das musas...
as outras de quem as
preencher...
de palavras ou de olhares...
de suspiros ou de pesares...

as primeiras linhas não são minhas
minhas são todas as outras...
linhas, palavras, olhares, pesares...
aos outros apenas a sugestão
de uma sombra na bruma surgirá...

terça-feira, 8 de abril de 2008

pele...



o tambor dá os primeiros sinais...
um corpo sai da bruma e move-se.
uma voz sublime aquece o ambiente.
a pele reflecte a luz e o corpo vibra, expande-se até ao infinito...
uma mulher surge e envolve esse corpo com o seu abraço.
eles tocam-se, dançam juntos.
as expressões mudam, vivem consoante os sentimentos.
morrem e renascem... vezes sem conta... até ao último suspiro...
cai o pano.
mas a beleza do momento ecoa no nosso ser.
para sempre...

segunda-feira, 7 de abril de 2008

toque...



pelas frestas da janela traços de luar vão

salpicando os lençóis de prateado e frescura

ao meu lado apenas um desejo não consumado...