sábado, 27 de fevereiro de 2010

de cheirar, de trincar, de sentir...

primeiro os sons.
aprendi que os alimentos também têm som.
pega-se numa beringela, encosta-se ao ouvido e agita-se.
o que ouvem?
o sino da igreja bate as onze badaladas.
meio kilo de laranjas, duas romãs e um molho de coentros.
em seguida vêm os cheiros.
bem antes de entrar na padaria o aroma a pão acabado de cozer,
a lenha, a doces, faz cocegas no meu nariz.
no saco, os coentros gritam os seus pedidos: quatro carcaças bem cozidas, e uma bola de berlim.
sento-me por instantes no banquinho da praceta,
o sol beijando-me o rosto, diz que são horas de começar.
na cozinha, faço dançar ervas e especiarias, rodopiam e rodopiam na panela.
é tempo. ele toca à campainha.
recebo-o com um beijo, ele faz aquele sorriso matreiro e pergunta:
que andaste tu a cozinhar hoje?
mistério! vendo-lhe os olhos e sento-o à mesa.
na primeira garfada uma explosão de texturas, odores, cores...
tiro-lhe a venda.
o som dos talheres no prato, dos copos a poisarem, criam uma pequena banda sonora.
agora a sobremesa! laranjas doces e sumarentas, romãs bem vermelhas, temperadas com a melhor das especiarias.
o meu segredo.

Sem comentários: